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Três hospitais recusaram grávida que perdeu bebé

Três hospitais recusaram grávida que perdeu bebé

Três hospitais de Lisboa e da Península de Setúbal recusaram receber a grávida— que perdeu o bebé na madrugada de terça-feira — porque não tinham vagas nos serviços de neonatologia, o que obrigou o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) a transportar a mulher, residente no Barreiro, até ao Hospital de Cascais, a uma hora de distância, confirmou ao Observador o próprio INEM.

Durante o percurso, e estando a grávida já com uma hemorragia, o feto acabou por morrer, confirmou o Hospital de Cascais.

Com as urgências obstétricas do Hospital do Barreiro e do Garcia de Orta encerradas, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM contactou o Hospital de Setúbal, o Hospital de Santa Maria e Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, “que informaram não receber [a grávida] por não dispor de vagas de neonatologia“.

“A utente foi então referenciada para o Hospital de Cascais, que não apresentava constrangimentos”, acrescenta o INEM. A distância entre a cidade do Barreiro e o Hospital de Cascais é de 60 quilómetros, numa viagem de cerca de uma hora.

Quando a mulher, de 38 anos (e grávida de 31 semanas) chegou ao Hospital de Cascais, o feto já se encontrava sem vida, confirmou ao Observador fonte oficial daquela unidade hospitalar.

O CODU do INEM adianta que recebeu uma chamada, com origem nos bombeiros, às 01h30 para assistência a uma utente de 38 anos. Segundo a RTP, a mulher já teria tentado contactar a linha SNS24 por volta das 23 horas, mas a chamada não terá sido atendida. Em alternativa, a grávida decidiu ligar ao 112, o que permitiu alertar os bombeiros do Barreiro.

Estes contactaram depois o INEM, que encaminhou a chamada para a linha SNS24. “O resultado da triagem determinou o encaminhamento da chamada para o SNS24”, esclarece o INEM. Às 1h47, o CODU recebeu nova chamada do local, “dando conta de uma redução do tempo entre contrações, sem rutura de bolsa”.

Nesse momento, o INEM acionou uma Ambulância dos Bombeiros Voluntários do Barreiro “que, após avaliação da utente, transmitiu dados clínicos ao CODU às 02h28”. É nesse momento que, percebendo que a grávida teria de ser assistida numa unidade hospital, o CODU tentou localizar, durante os 20 minutos seguintes, uma urgência obstétrica com capacidade para receber a grávida. Com os hospitais de Setúbal e de Santa Maria e também a MAC sem disponibilidade por falta de vagas, a mulher é encaminhada para Cascais.

“Pelas 02h51, a equipa dos Bombeiros ligou novamente ao CODU” dando conta de que a grávida sofrera uma hemorragia. É neste momento que o INEM decide acionar um meio diferenciado de socorro. “Reconhecendo a potencial gravidade da situação, o CODU acionou imediatamente a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital do Barreiro, que prestou assistência à utente e o acompanhamento do transporte ao Hospital de Cascais”.

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O Observador questionou os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), de modo a perceber se a chamada alegadamente feita pela grávida para a Linha SNS24 foi ou não atendida, e caso não tenha sido, por que motivo isso aconteceu. Na resposta, os SPMS referem que “não há registo de qualquer constrangimento na Linha SNS 24 nos dias 2 e 3 de julho” e que “o tempo máximo de espera para atendimento de utentes grávidas situou-se, entre as 23 horas do dia 2 de julho e as 2 horas do dia 3 de julho, nos 73 segundos“.

Relativamente à chamada inicial que teria sido feita pela própria grávida por volta das 23h, o organismo diz que “registam-se duas chamadas do número de telefone indicado, pela utente, sendo que a primeira chamada, para a opção ‘Linha SNS Grávida’, à 01h20, foi desligada após 41 segundos de espera. A segunda chamada, na qual foi acionada a opção ‘Problemas Respiratórios’, foi realizada à 01h23 e desligada à 01h28″.

Ou seja, os SPMS referem a existência de duas chamadas para a linha SNS24, mas só referem um primeiro registo às 1h20 — cerca de duas horas depois do momento em que a própria mulher dizia ter feito um primeiro contacto.

Numa nota enviado ao Observador, o Ministério da Saúde adianta que, “dado que era uma gravidez de 31 semanas, pré-termo, houve necessidade de encaminhar a utente para um hospital com apoio perinatal diferenciado (neonatologia)”, mas nega que tenha sido recusada a assistência à gravida “por motivo de encerramento dos serviços de urgências de obstetrícia da Península de Setúbal”. Na verdade, os hospitais que recusaram a assistência foram os que, estando abertos, não tinham vagas disponíveis (Hospital de Setúbal, Hospital de Santa Maria e a MAC).

Segundo a tutela, a assistência à grávida cumpriu os protocolos de referenciação e acesso. “Em todos os momentos foi garantido o acesso aos cuidados de saúde, concluindo-se que a resposta prestada à utente quer pela linha grávida do SNS, quer pelo INEM foi congruente com os protocolos de referenciação e de acesso em vigor”, sublinha o Ministério da Saúde, que “lamenta o desfecho da situação e endereça condolências à família”.

Este caso soma-se ao de uma mulher de 37 anos, residente na Amora, que perdeu o bebé depois de ter sido atendida em cinco hospitais. A grávida, de 40 semanas, acabou por dar à luz no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mas o bebé acabou por morrer por falta de oxigenação, depois de uma cesariana de urgência.

observador

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