O Shopping Firenze e a Arte do Luxo Italiano

312

Aterrissei no movimentado aeroporto de Malpensa logo de manhã e, antes que eu percebesse, já estava sentada em um trem de alta velocidade rumo a Florença. Em poucas horas, cheguei ao coração da capital da Toscana, mas não me demorei muito. Estava a caminho de uma experiência exclusiva e personalizada na perfumaria Aquaflor, no Borgo Santa Croce, em Florença. Meu agendamento foi feito pelo serviço de concierge do The Mall Firenze , um programa de luxo do sofisticado outlet italiano que pode transformar uma viagem comum em algo exclusivo e personalizado. A equipe pode organizar carros particulares, passeios locais ou experiências sob medida, como a minha na Aquaflor.

Entrar na Aquaflor foi como atravessar um portal para uma época mais tranquila e passada. O fundador, Mauro Arena, é um devoto amante da arte e do artesanato, e idealizou uma casa de perfumaria inspirada em ideais de beleza e singularidade, onde fragrâncias artesanais com ingredientes raros são guardadas em armários antigos e frascos tradicionais. Ao entrar, fui recebida por um especialista em perfumaria e conduzida ao laboratório no subsolo, onde exploramos as matérias-primas, a história da tradição florentina da perfumaria e, em seguida, começamos a conversar sobre a criação da minha própria fragrância. Fui levada a um mezanino com vista para a loja, onde formularia meu perfume pessoal, sendo guiada passo a passo na seleção de acordes e na combinação deles para criar um Eau de Parfum de 100 ml. Fácil, não é? (ou pelo menos era o que eu pensava!).

Conversamos sobre a estrutura das fragrâncias: as notas de topo são os aromas de abertura brilhantes e voláteis (pense em cítricos) que causam a primeira impressão, mas desaparecem rapidamente. As notas de coração formam o núcleo emocional do perfume (geralmente florais e especiarias) e carregam a personalidade da fragrância por algumas horas. Por fim, as notas de fundo são as madeiras ou resinas profundas que ancoram o aroma, conferem longevidade e permanecem mesmo depois que as notas de topo evaporam. Minhas notas de topo eram brilhantes e vibrantes, uma mistura de bergamota e laranja. Para o coração, escolhi rosa, flor de laranjeira e cravo, algo elegante, mas com um toque de ousadia. A base surgiu com sândalo e âmbar, que achei suaves, porém duradouros. Misturamos e testamos, sobrepondo e refinando até que o perfume me representasse. Observar o processo foi hipnotizante, um delicado jogo de toques e movimentos entre arte e química. Embora, admito, também um pouco avassalador com tantas possibilidades.

O que mais me impressionou na experiência foi como o processo de criação de moda e fragrâncias parece se sobrepor. Na Aquaflor, o ato de desenvolver um perfume me lembrou o de criar uma coleção cápsula: as notas de topo, coração e fundo são como componentes de um guarda-roupa, cada uma necessária e trabalhando em conjunto para formar um todo coeso. Depois que o perfumista fez sua mágica, girando a fragrância no béquer, diluindo-a e adicionando álcool, ele finalmente selou o frasco. Embora fosse uma lembrança maravilhosa, parecia mais um segredo que eu poderia levar para casa. Cheguei até a levar uma bronca dele por fotografar meu caderno de recordações, que continha minha pirâmide olfativa e a fórmula exclusiva do perfume!

Naquela tarde, parti de Florença rumo à paisagem toscana, com destino a Viesca Toscana, uma das propriedades privadas da família Ferragamo e irmã de Il Borro. Antiga residência renascentista, a propriedade foi adquirida por Salvatore e Wanda Ferragamo em 1952 como refúgio de fim de semana da família. Hoje, foi cuidadosamente restaurada e transformada em um conjunto de elegantes vilas e suítes, cada uma irradiando uma beleza tranquila e atemporal. Cheguei pouco antes do pôr do sol, quando a luz se suavizava sobre as colinas onduladas e se depositava delicadamente no perímetro ladeado por ciprestes. Uma leve névoa pairava pelo vale, conferindo um certo romantismo peculiar à região. O quarto da minha suíte tinha vista para os campos toscanos, emoldurado por uma janela em arco que parecia ter sido projetada justamente para aquela vista. Lá dentro, me aguardavam gestos pessoais que definem a hospitalidade: um bilhete escrito à mão pela própria Vittoria Ferragamo e uma garrafa de vinho Il Borro.

Depois de me refrescar, fui jantar no restaurante da propriedade, também chamado Il Borro, onde o cardápio era uma verdadeira declaração de amor à Toscana. Saboreei uma massa artesanal com manteiga e sálvia, regada com azeite de oliva extraído das próprias oliveiras da propriedade, e degustei um Chianti perfeitamente envelhecido, exatamente o que eu precisava depois de um dia inteiro de viagem. A manhã seguinte transcorreu lentamente, como devem ser as manhãs na Toscana. O café da manhã, composto por um bule de chá, frutas, doces frescos e ovos, foi servido na sala de jantar do meu quarto. Depois, caminhei pelos jardins da propriedade com um membro da família Ferragamo, passando por um pomar de cerejeiras, até chegar à vila que um dia foi lar da Sra. Ferragamo. Encantadoramente, ela permanece um reflexo íntimo do seu gosto: tetos com afrescos, lareiras imponentes e móveis preservados da época em que ela ali viveu. Em uma demonstração inspiradora de engenhosidade, ela mandou fazer cortinas e almofadas com os tecidos excedentes da Ferragamo, praticando a “sustentabilidade” muito antes de ela ser defendida na indústria da moda. Ao que parece, ela é uma mulher verdadeiramente à frente de seu tempo.

Naquela manhã, peguei um carro até o The Mall Firenze para o que só posso descrever como uma tentação de compras da mais alta ordem. O shopping fica em meio às colinas da Toscana, um ambiente paradoxalmente sereno considerando toda a agitação em torno das lojas das marcas mais cobiçadas do mundo. Gucci, Saint Laurent, Bottega Veneta, Loro Piana e Fendi ocupam os corredores a céu aberto. Felizmente, parece mais uma vila de luxo do que um outlet. Passei de boutique em boutique e só parei para um almoço rápido no ToscaNino Bottega & Restaurant, onde, mais uma vez, me deliciei com uma porção generosa de massa e uma taça de vinho branco enquanto minhas sacolas de compras eram discretamente recolhidas para mim na recepção. Quando saí, meu cartão de crédito certamente sentia os efeitos, embora eu me convencesse de que tudo era em nome da pesquisa. Afinal, sou editora e isso era trabalho!

Naquela tarde, peguei o trem de volta para Milão. Quando cheguei, a semana de moda já estava a todo vapor. Estava no meu primeiro evento da semana, com a LaDoubleJ, onde estava rodeada de modelos, formadores de opinião e do fundador JJ Martin, quando senti um leve rastro do meu novo perfume Aquaflor no meu pulso. Primeiro, cítricos, depois o calor das especiarias e da madeira. Era uma lembrança discreta de Florença, das colinas do lado de fora da minha janela em Viesca e do luxo de desacelerar enquanto passeava sem rumo pelo shopping. A Itália tem um jeito de incorporar a beleza em tudo o que faz. Esta viagem, embora breve, pareceu um estudo de equilíbrio: fragrância, moda e aquele tipo de elegância discreta que permanece muito tempo depois do momento ter passado. E acredite, tenho a fatura do cartão de crédito para provar!

Imagens: Cortesia de instagram.com/elizabethkurpis