A radicalização silenciosa dos jovens políticos

Nos últimos anos, tem-se tornado evidente que as redes sociais deixaram de ser apenas palco de entretenimento ou convívio. São hoje um espaço central de formação política, de disputa ideológica e de construção de identidade. Para os jovens que se iniciam na política, as redes são não apenas a principal fonte de informação, mas também o espelho através do qual moldam o discurso, gestos e estratégias. Espelho esse que está muitas vezes distorcido.
A política — tal como as plataformas digitais — vive cada vez mais de likes, shares e polémicas instantâneas. A racionalidade cede lugar à emoção e a ponderação à reação imediata. Os jovens políticos, ávidos de afirmação e de reconhecimento, acabam por absorver estas dinâmicas, reproduzindo os excessos que veem online. O resultado é uma linguagem mais agressiva, posturas mais teatrais e uma tendência clara para simplificações extremadas, uma espécie de raciocínio curto e viciado, no estilo moderno do TikTok.
Este fenómeno não surge do vazio. Existe um partido que tem sido pioneiro em explorar o algoritmo da indignação em Portugal. O partido percebeu que, no ambiente digital, a mensagem que gera choque e emoção multiplica-se mais rápido do que a que convida à reflexão. E, perante a eficácia desta estratégia, outros partidos — sobretudo os que acolhem jovens, que almejam quadros políticos, em busca de espaço mediático — tendem a imitá-la, mesmo que o realizem de um modo mais ou menos inconsciente.
Vivemos numa sociedade mais emotiva, menos racional e mais imediatista. A discussão política, que deveria ser um espaço de confronto de ideias, transforma-se cada vez mais num ringue de frases de efeito. Os jovens políticos, em vez de aprenderem a debater com argumentos, treinam-se para lançar soundbites virais. Em vez de estudarem dossiers complexos, treinam-se para vencer no curto prazo de uma publicação no Instagram ou no TikTok.
Inequivocamente, este caminho tem custos adjacentes. Quando a política se radicaliza no discurso, abre espaço para a intolerância, para a desinformação e para a fragmentação social. Mais preocupante ainda: se a política for apenas um reflexo da lógica das redes, deixará de ser um espaço de liderança e de elevação, para se tornar num espelho deformado daquilo que a sociedade tem, na sua componente mais imediata e visceral.
O que se espera dos jovens que entram na vida pública não é que sejam cópias fiéis dos algoritmos, mas que os desafiem. Que tragam à política a coragem de pensar a longo prazo, de defender a racionalidade e o espírito crítico num tempo em que tudo se empurra na direção da emoção bruta e volátil. Espera-se que sejam capazes de mostrar que é possível comunicar com clareza sem ceder ao populismo e de criar pontes que não ruam, mas que se edifiquem pela diferença.
A política não pode ser apenas um reflexo do que as redes pedem; deve ser, sobretudo, um antídoto para os excessos que as redes potenciam. Se a nova geração política cair na aliciante armadilha da radicalização, perderemos não apenas o debate público, mas a possibilidade de construir consensos mínimos, numa sociedade que já vive marcada pela polarização.
Em tempos de cliques fáceis e indignação instantânea, o maior ato de coragem para um jovem político é simples: resistir à tentação do radicalismo.
observador